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  • Miguel Modesto

A tecnologia e a tecnofobia.

O primeiro pedaço de tecnologia utilizado pelo Homem foi o fogo. Na altura era o Homo Erectus e não o Sapiens e isto aconteceu há qualquer coisa como 800 mil anos. Depois há registos de ferramentas de pedra há qualquer coisa como 100 mil anos. E nos últimos 12 mil anos, armas feitas de pedra, corda e madeira, utensílios de cobre, a agricultura, a roda, a escrita, o bronze, o ferro, a catapulta, a ferradura…


No meu podcast tenho abordado uma série de assuntos que acho relevantes para alguém que trabalhe por conta própria, ou para alguém que possa estar a pensar em o vir a fazer. Os assuntos têm sido partilhados sempre do meu ponto de vista. Este artigo também reflete a minha opinião. Falo sobretudo da minha experiência e de algum senso comum, não com a intenção de estabelecer a minha opinião como um conjunto de máximas que se tornem referências no livro Como ser um freelancer para totós, mas com a intenção de partilhar informação que poderá ser realmente útil, porque este tipo de coisas não se ensinam na faculdade ou nas escolas técnico-profissionais onde vamos buscar o nosso background teórico e técnico.

Tenho 46 anos, não se deixem enganar pela minha barba totalmente branca, mas posso dizer que comecei a trabalhar no tempo das vacas gordas. Estive na faculdade no anos 1990 do milénio passado e comecei a trabalhar nesta área ainda estudava, algo que era bastante comum nessa altura.


O meu primeiro ordenado nesta área como júnior art director foi de 500€ (na altura 100 contos) em 1997.

Um estágio.

A minha primeira experiência profissional foi horrível - depressa cheguei à conclusão que a faculdade não me estava a dar nem 10% de preparação para enfrentar o mercado de trabalho. Na altura a internet entrava pelas nossas casas a dar os primeiros passos através do modem de 56k, o software e hardware eram no mínimo rudimentares quando comparados às ferramentas de trabalho atuais. Existiam computadores há já algum tempo, mas nem quero imaginar o que era esta profissão uns anos antes, sem essas máquinas e programas, quão manual e moroso seria fazer fosse o que fosse.

Nessa altura utilizava o Freehand, o Pagemaker e o Photoshop. Não me lembro das versões, mas ainda trabalhei com o Photoshop 4 durante algum tempo. Tive uma introdução às ferramentas da Corel que depressa coloquei de lado, voltei ao Freehand e acompanhei a evolução tecnológica, e como estas ferramentas não se desassociam desta nossa profissão. Depois vieram o QuarkXpress e o Indesign e o Illustrator e mais uma série de programas e tecnologias que rapidamente se tornavam obsoletas, principalmente na maneira como se arquivavam ficheiros - Disquetes, Zip drives, SyQuest, CD-rom, pen drives, discos externos e finalmente a cloud.


A internet introduziu termos no léxico como HTML, JAVA, WYSIWYG (What you see is what you get), motores de busca, o email, programas como o Dreamweaver e o Flash da Macromedia e mais alguns que já nem me lembro do nome. Longe vão os dias dos fotolitos e dos ozalides. Declínio do print, olá Figma, UX-UI …


Tudo começou a ser progressivamente mais fácil e cada vez mais rápido. Mas todo este percurso foi feito para que a genialidade da mente humana pudesse ser elevada a patamares cada vez maiores.

Eis que chego ao objetivo deste artigo - a inteligência artificial.


inteligência artificial
imagem: Rawpixel.com

Os profetas do fim dos dias rapidamente disseram que é o início do fim. Os agnósticos disseram que vamos todos ser substituídos por máquinas.

Já passou tempo suficiente para eu chegar à conclusão que a inteligência artificial é só mais um capítulo da evolução tecnológica e não o fim do livro. É um capitulo do caraças diga-se. Está a abalar as colunas e traves-mestras não só da nossa indústria mas de toda a sociedade.

Mas tenham em conta o seguinte - a tecnologia está a substituir funções outrora desempenhadas por humanos há talvez uma centena de anos? O trabalho em fábricas, antes feito por milhares de homens e mulheres, passou a ser feito por máquinas. As linhas de montagem de automóveis, computadores, eletrodomésticos, telemóveis são altamente mecanizadas. Seria uma questão de tempo até que o trabalho mais intelectual fosse atropelado pelo progresso.

O engraçado é, como só agora é que nos começou a doer, quando há anos que usamos ferramentas de inteligência artificial diariamente - a título de exemplo - o auto corretor de texto, o email e a sugestão de palavras a utilizar por já conhecer os nossos hábitos de escrita. Os algoritmos utilizados no YouTube, Spotify, Netflix que nos sugere conteúdo semelhante ao que visualizamos ou ouvimos. A publicidade que nos é recomendada online. Os motores de busca. A Siri e a Alexa e todos os outros assistentes virtuais. Nunca nos queixamos antes. Até celebrámos estes avanços tecnológicos. Estamos a queixar-nos agora porque de repente a grande revolução da IA tornou-se grande demais para não se notar. De repente é possível usar o ChatGPT para escrever textos inteiros, o Photoshop com a tecnologia Generative Fill permite criar em alguns segundos imagens e ilustrações a partir do nada. Isto só para referir alguns exemplos que nos afetam diretamente.

A minha opinião?


A normalização da inteligência artificial já está em andamento e é uma tendência crescente em várias áreas da nossa vida. À medida que a tecnologia evolui e se torna mais sofisticada, a sua presença está a tornar-se cada vez mais comum em diversas aplicações e setores.

Empresas estão a adotar a IA para otimizar operações, melhorar a eficiência e fornecer melhores serviços aos clientes. A IA também está a desempenhar um papel importante em áreas como cuidados de saúde, finanças, transporte e muito mais. A normalização da IA também pode ser observada em produtos de consumo, como assistentes virtuais, sistemas de recomendação, automação residencial e até mesmo em carros autónomos. No entanto, é importante notar que a normalização da IA também traz consigo questões éticas, regulatórias e de privacidade que precisam ser abordadas. A forma como a IA é utilizada e regulamentada determinará em grande medida o impacto que ela terá na nossa sociedade.

Em resumo, a IA está a tornar-se cada vez mais comum e integrada nas nossas vidas, mas a sua trajetória futura será moldada pelas decisões que tomamos como sociedade em relação ao seu desenvolvimento, aplicação e impacto.

Notaram alguma coisa? Esta foi a resposta que o ChatGPT me deu quando perguntei se o uso da tecnologia irá alguma vez normalizar-se.


O que realmente me chateia, aquilo que me revolta é, que quem utilizar estas ferramentas, se se contentar com o resultado do que lhes é apresentado, tem um nível de exigência muito pequeno. E isso sim é que é preocupante.


Não precisamos de ser todos um José Saramago ou um Neil DeGrasse Tyson, mas almejarmos a um pouco mais não nos faz mal nenhum, pois não?

Agora sim, a minha opinião - o uso dessa tecnologia vai normalizar-se como todas as outras anteriormente descritas. Mais, tudo o que é revolucionário é sempre olhado com suspeita, até que um dia nem nos lembramos como era a vida antes dessa tecnologia aparecer.

E depois depende do uso que lhe darás. Se a utilizares bem, terás bons resultados. Se a não souberes utilizar terás resultados medíocres.


Passeio em alto mar para observar a vida marinha. Exemplo de uma imagem manipulada com a IA do Photoshop. Antes e depois. Demorou alguns segundos apenas.
Exemplo de uma imagem manipulada com a IA do Photoshop. Antes e depois. Demorou alguns segundos apenas.

Como freelancer, que trabalho maioritariamente sozinho, vejo a IA como um apoio extraordinário à minha oferta. Consigo otimizar sobretudo tempo, e como sabem, tempo é dinheiro. Se a IA consegue otimizar tarefas repetitivas, não vou recusar. Não uso é a tecnologia para cheating. Não desenho logótipos com apoio da IA.


Um aparte, já experimentaram? Os resultados são absurdos, não há propósito. O que existe é um conjunto de truques com cliparts. Chega mesmo a ser deprimente. E ainda bem…

Esta tecnologia já está a roubar trabalho à nossa profissão, é verdade. Hoje em dia uma pessoa com acesso à IA e ao Canva é designer, pelo menos do seu próprio projeto, da sua loja de roupa, do seu café, do seu projeto online de venda de t-shirts. Por essa razão “rouba” trabalho ao designer profissional. Mas não vai competir com ele. Não vai conseguir trabalhar para lá do template que escolher. Obviamente que o fazem não só por acharem que têm as qualificações para o fazerem (que não têm, garanto-vos), também o fazem por razões monetárias.


O que temos de fazer é saber vender os nossos serviços melhor para competir com a escalada de pessoas que vão recorrer à IA para criar as suas próprias soluções.


Mesmo que não seja o nosso público alvo, temos de demonstrar que essas soluções não apresentam resultados únicos e que mais cedo ou mais tarde, vão encontrar alguém com um logotipo igual, ou com uma comunicação gráfica semelhante, porque esses templates são usados por todas as pessoas que lhes tenham acesso.


Quanto à ideia de que a tecnologia nos vai substituir não é totalmente disparatada. Tem acontecido, vai continuar a acontecer. E a raça humana tem-se adaptado ao longo dos tempos. Quantas profissões existem agora que não existiam há 5 ou 10 anos? Profissões que só são possíveis porque novas tecnologias o permitem ou mesmo, exigem.

O freelancer tem de saber utilizar os diferentes recursos e a adversidade.


A primeira coisa que deve fazer é manter a mente aberta e procurar informação. A seguir experimentar a tecnologia e ver como a pode utilizar a seu favor. E depois repetir, porque isto está em constante mudança.


Leste este artigo até ao fim? Parabéns, este é o conteúdo do próximo episódio do Podcast.

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